Escrever para derrubar as big-techs (06)

Gabriel Dudziak
4 min readNov 16, 2021

Está cada vez mais límpido na minha mente o fio condutor da nossa crise de desinformação…

Tenho lido muito sobre isso e decantado pensamentos, insights e reflexões sobre o tema. Vou escrever toscamente e mais pra frente — quem sabe- organizo melhor.

Crédito da imagem: https://economictimes.indiatimes.com/tech/internet/curbing-fake-hate-content-on-riots-social-media-companies/articleshow/74522531.cms

De maneira bem resumida:

  1. Fundamental entender que as redes sociais não são reflexo da nossa humanidade (ver “Dez argumentos para você deletar agora suas redes sociais”)
  2. Mister falar em voz alta que Facebook/Meta/Twitter/Google e cia se alimentam e prosperam com nosso tempo gasto neles. São os anúncios e as vendas de dados que se alimentam da gente e não o contrário. O core business não é conteúdo e sim sugar pessoas.
  3. Todo o design desses produtos (Face, Twitter, Youtube, Instagram) é feito para você passar muito tempo neles. Para isso não basta ter conteúdo e sim mexer com o cérebro do usuário e produtor. Mexer com nossas doses de dopamina, em especial os 4 erres: raiva, revolta, ranço e ressentimento. É isso que faz a gente “engajar”, curtir e compartilhar, mesmo que seja pra dizer o quão absurdo é. E por que voltamos nisso todo dia? Estamos viciados na nossa busca por RECONHECIMENTO. Queremos a aceitação moral, o sentimento de pertencimento e as doses de satisfação que vêm nas métricas dos likes, views, etc.
  4. Ao mesmo tempo, essa busca pelo reconhecimento aumenta o ego e o narcisismo dos seres humanos. Hoje todo mundo quer ser famoso pelo que diz e não tanto pelo que faz. Isso mata a busca por pontos em comum entre seres humanos e exacerba a valorização das diferenças. Redes sociais dividem e extinguem nossos pontos em comum.
  5. Quando vemos conteúdos absurdos na internet, não dá mais pra falar simplesmente em “mentira” ou “fake news”. Também não é apenas desinformação no sentido de “essa pessoa não sabe o que está falando”. Porque não se trata apenas disso: é método de engajamento. Então dizer que isso ou aquilo é mentira não serve pra nada. Para quem produz e consome o que importa não é isso.
  6. O jornalismo está levando um baile das redes e ainda não sabe o que fazer. Nessa se encastelam e dizem: “eu sei o que é a verdade” e vou enfiar goela abaixo dos hereges. Ao fazê-lo só perdem credibilidade.
  7. Ao mesmo tempo o jornalismo trouxe a rede social para a esfera pública sem filtros. O segmentado para engajar, revoltar, ressentir virou pauta nacional e conteúdo para todas as pessoas pela caixa acústica que são os órgãos de imprensa. Eles fazem exatamente o jogo das redes sociais e de quem se aproveita delas. Qualquer tentativa de jornalismo com J maiúsculo deveria colocar de volta as redes sociais no lugar delas. (ver “Tratamento de choque — Madeleine Lacsko”)
  8. O objetivo, porém, parece que não é fazer jornalismo e sim surfar na onda e nessa essas empresas têm ido muito bem. Hoje é a grande mídia, a mídia “confiável”, o “quarto poder” que repete a lógica da rede social com abordagens superficiais calcadas no engajamento, raiva e ressentimento. Se tornaram atores da polarização cada vez maior da sociedade em vez de diminuidores e “fiscalizadores” do debate público.
  9. Nessa entra também a turminha esclarecida (muitos inclusive jornalistas) que acham que estão longe “dos inimigos”, mas que fazem cada vez mais igual a eles. As redes sociais ajudaram muito nesse objetivo deles, pois é muito simples ser atuante nas causas por meio de linchamento público, ataques morais e um sentimento de superioridade que faria corar o mais singelo progressista de verdade.
  10. Urge repensarmos o pacto social e as funções do estado no mundo globalizado e dominado pelos debates promovidos dessa maneira sórdida por Twitter, Youtube, Face, Instagram, etc. O pacto social não está adequado a esse momento da humanidade e não tem mais eco com a digitalização e protagonismo das redes sociais. (ver “A new social contract for the digital age — Manuel Muñiz”)

Tem mais coisa… Principalmente sobre ego, viés de confirmação, aniquilação do debate, narcisismo, sentimento de pertencimento…

Por ora não vou conseguir desenvolver sem me repetir.

Já escrevi algumas outras coisas sobre redes sociais aqui:

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